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ÁCIDO FÓLICO: QUANDO SUPLEMENTAR É NECESSÁRIO?

By 25 de fevereiro de 2011Nutrição

Também conhecido por vitamina B9 ou folato, o ácido fólico foi isolado em 1941 da folha de espinafre e logo se observou que a deficiência dessa vitamina pode acarretar anemia macrocítica. Mais tarde, no entanto, identificou-se o papel essencial do ácido fólico para a síntese, integridade e função do ácido desoxirribonucléico (DNA).

Essa descoberta impulsionou o desenvolvimento de estudos sobre seu potencial efeito na produção e manutenção de novas células, funções particularmente relevantes durante a gestação e desenvolvimento da criança.
De fato, existe uma alta requisição de ácido fólico para sustentar a rápida divisão celular necessária para o desenvolvimento fetal, o que pode ocasionar relativa deficiência dessa vitamina durante a gestação

O efeito da suplementação de ácido fólico nesse período foi avaliado em quase 5.500 gestantes. Nesse estudo, o uso de suplemento vitamínico contendo 0,8 mg de ácido fólico reduziu a ocorrência de nascimentos de bebês com malformação do tubo neural, bem como do trato urinário e do sistema cardiovascular, além de diminuir os sintomas de enjôos, náuseas e vômitos durante o primeiro trimestre de gravidez.

Observou-se ainda menor incidência de partos prematuros e melhor qualidade do leite materno. A importância das observações levantadas desse estudo desenvolvido por Czeizel, e confirmadas mais tarde por outros pesquisadores rendeu ao autor o Prêmio Internacional de Pesquisa Científica da Fundação Joseph P. Kennedy Jr. (EUA), distinção oferecida a cada cinco a nos aos cientistas que contribuíram de forma relevante na melhoria ou na prevenção de doenças congênitas.
O papel do ácido fólico na integridade do DNA também sugere possível participação dessa vitamina na prevenção do desenvolvimento de células malignas e, conseqüentemente, no estabelecimento de cânceres. No entanto, os dados da literatura são relativamente contraditórios em relação à prevenção de câncer por ácido fólico e, nesse ponto, sua suplementação merece significativa atenção . Estudos observacionais sugerem que o alto consumo de ácido fólico reduz o risco de desenvolver certos tipos de câncer, como o colorretal . Por outro lado, essa vitamina pode promover o desenvolvimento de lesões malignas preexistentes . O papel do ácido fólico no desenvolvimento de tumores preexistentes é relevante ao ponto de se utilizarem drogas anti-folatos como agentes quimioterápicos, como o metotrexato . Esse efeito promotor do desenvolvimento tumoral pode estar associado ao seu papel na produção e manutenção de novas células em geral, sugerindo uma possível participação do ácido fólico na produção de novas células tumorais.
Outras condições nas quais a suplementação de ácido fólico tem potencial benefício estão relacionadas ao seu papel, juntamente com vitaminas B6 e B12, na regulação do nível plasmático de homocisteína. A homocisteína é um aminoácido sintetizado pelo organismo que, se não for corretamente metabolizado, contribui para o desenvolvimento de aterosclerose. Evidências epidemiológicas indicam que o excesso de homocisteína colabora para o aparecimento de doenças cardiovasculares, tromboses arteriais e venosas, condições que podem levar ao infarto. De acordo com estudo desenvolvido pela Associação Americana do Coração, existe uma relação inversa entre consumo de ácido fólico e níveis plasmáticos de homocisteína. No entanto, os resultados de estudos clínicos com suplementação dietética com ácido fólico e vitaminas B6 e B12, como terapia para baixar níveis de homocisteína, não são animadores. Os três maiores desses estudos não encontraram efeito significativo da suplementação d essas vitaminas sobre o risco de doenças cardiovasculares. Por outro lado, alguns dados sugerem prevenção secundária de infartos não-fatais.
Hiperhomocisteinemia também tem sido apontada como fator de risco independente para disfunção cognitiva. Seu potencial prejuízo sobre funções neurológicas inclui declínio cognitivo associado à idade (como perda de memória), demência vascular e doença de Alzheimer.

Baixos níveis de ácido fólico e vitaminas B6 e B12 também parecem ter relação com o desenvolvimento de doença de Alzheimer. Apesar do potencial benefício da suplementação com ácido fólico na prevenção dos danos neurológicos causados por hiperhomocistenemia, ainda não existem dados na literatura que o confirmem.
Níveis elevados de homocisteína são ainda freqüentes em pacientes com desordens crônicas mediadas pelo sistema imunológico, como psoríase. Faz parte da terapêutica dessas doenças o uso de metotrexato, um antagonista do folato. A suplementação com ácido fólico reduz a toxicidade e os efeitos colaterais desse agente, sem prejudicar sua eficácia, e pode promover a condição clínica de pacientes a ele submetidos, em particular aqueles com concomitante hiperhomocisteinemia e baixo folato plasmático.
O consumo de ácido fólico é essencial para funções orgânicas distintas e seu papel difere nas etapas da vida.

Na idade escolar, a sua carência pode levar a anemia nutricional. Nos adultos mais idosos, o baixo consumo dessa vitamina ou seus baixos níveis plasmáticos podem agravar problemas neuropsiquiátricos. Em condições de hiperhomocisteinemia ou de baixo folato plasmáticos, o aumento de sua ingestão pode ser potencialmente benéfico, a fim de prevenir doenças cardiovasculares e desordens neurológicas. No entanto, ainda não existe a indicação específica de uma suplementação nessas condições, e não se sabe a segurança da ingestão de altas doses de ácido fólico por longos períodos. O Instituto de Medicina Norte-Americano (NIM) indica 1.000 mcg como nível máximo de ingestão diária dessa vitamina para adulto e 300-400 mcg para crianças entre um a oito anos (18). Por outro lado, durante as 12 primeiras semanas gestacionais, a ingestão diária de 400 mcg de ácido fólico, na forma de suplemento ou em alimentos enriquecidos com essa vitamina, já é recomendada desde 1998 pelo NIM, a fim de prevenir defeitos no desenvolvimento do tubo neural do feto .

Raquel Susana Matos de Miranda Torrinhas
Bióloga-chefe da Equipe de Metabologia e Nutrição em Cirurgia do Laboratório de Fisiologia e Distúrbios Esfincterianos (LIM 35) da Disciplina de Gastroenterologia Cirúrgica do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Mestre em ciências pelo Departamento de Fisiopatologia Experimental da FMUSP.

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